Nos velhos tempos de antanho, quando o campo era sem dono
O guasca era um rei no trono verde-escuro das coxilhas...,
Sua corte eram tropilhasselvagens dos potros bravos.
O pampa não tinha escravos, onde tudo era igualdade,
E o pendão a Liberdade !
A espora que retinia, a garrucha, a lança esguiaa boleadeira e os cavalos,eram somente os vassalosque o gaúcho conhecia.
Mas um dia a prepotência mostrou as garras malvadas!
Banhou de sangue as estradas, cobriu de luto a verdade,e em troca de liberdade, trouxe grilhões de negreiro.
Porém o guasca altaneiro boleou a perna no pingo,E foi pra luta sorrindo, porque o destino mandou.
Muito gaúcho tombou, mas, entre os guascas sombrios,a prepotência caiu e a liberdade ficou!
E no lombo das coxilhas,no largo dos descampados,cabos de lança, quebrados, apontavam cemitérios.
E os quero-queros gaudérios, por sobre aquela tristeza, pairavam sua nobreza, como por artes divinas.
E, descendo nas campinas por onde o sangue rolou,Um bando imenso pousoue embaixo d'asa escondidas,guardavam as pontas perdidas da lança que o índio amou...
Agora, pela amplidão,na coxilha e o pampa enormeo quero-quero não dorme, como eterno guardião.
Às vezes, na noite escura, Como um grito de amargura,estridula seu cantar...
É a alma de algum gaúcho, que, num último repuxo, se levantou pra pelear!
E qual um centauro aladoque se ergue do banhado cavalgando uma ilusão,voará, como a esperança,guardando, à ponta de lança,a Gaúcha Tradição!